O PCdoB compreende que a luta continua para manter o ministro Orlando Silva na pasta diante das denúncias
Usando o fato de ser o mais fiel e histórico aliado do PT, o PCdoB venceu o primeiro “round” e, estimulado pelo ex-presidente Lula, conseguiu manter Orlando Silva como ministro do Esporte. Após quase uma hora e meia de reunião com a presidente Dilma Rousseff, o ministro foi confirmado no cargo no mesmo dia em que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar o ministro e o governador do Distrito Federal e ex-titular do Esporte, Agnelo Queiroz (PT), por crime de responsabilidade, nas supostas irregularidades no programa Segundo Tempo, que atende crianças e adolescentes de baixa renda.
Integrantes do PCdoB, porém, reconheciam que a luta não terminou, que “a disputa política pela queda de Orlando” continuará. Pesou na decisão de Dilma, ainda, a favor do ministro, o fato de seguir sem provas a denúncia específica feita contra ele pelo policial militar João Dias Ferreira, de que ele recebeu dinheiro desviado do programa. Embora a Controladoria Geral da União (CGU) já tenha confirmado desvios — foram detectadas irregularidades em 676 convênios no valor de R$ 49 milhões —, Dilma decidiu não jogar o ministro na lama e aguardar novos pareceres jurídicos sobre a situação da pasta. Enquanto isso, ganha tempo para negociar com o PCdoB um eventual substituto.
Em nota divulgada pelo Blog do Planalto, na sexta, a presidente disse que “o governo não condena ninguém sem provas e parte do princípio da presunção da inocência. Não lutamos inutilmente para acabar com o arbítrio e não vamos aceitar a condenação sumaria de ninguém”.
Por enquanto
A decisão da presidente de manter o ministro no cargo, por enquanto, não deu ao PCdoB a tranquilidade de respirar aliviado. O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) disse que o partido vai continuar unido e lutando porque sabe que a disputa política vai continuar, “Ela deu um voto de confiança ao ministro, e isso é muito importante para a defesa que terá de fazer daqui para a frente diante de denúncias insustentáveis”.
Propina – Pastor afirma que Esporte cobrou 10% para PCdoB
O fundador de uma igreja que recebeu R$ 1,2 milhão do Ministério do Esporte diz que foi pressionado a repassar 10% do dinheiro para os cofres do PCdoB. As informações são da Folha de S. Paulo.
“Veio um monte de urubu comer o filezinho do projeto”, disse o pastor evangélico David Castro, 56, que dirige a Igreja Batista Gera Vida, de Brasília. Ele diz que se recusou a pagar a propina.
O ministério fechou convênio com a Igreja Batista Gera Vida no fim de 2006 para desenvolver atividades esportivas para 5 mil crianças carentes, no programa Segundo Tempo. O projeto foi apresentado ao ministério por Castro, quando o ministro era, Agnelo Queiroz, atual governador do DF.
Quando o convênio com a instituição foi assinado, em 14 de novembro de 2006, Orlando Silva já era o ministro. O dinheiro foi liberado em duas parcelas: a primeira seis dias depois da assinatura do convênio e a segunda em 2 de abril de 2007.
Suporte político
Funcionário aposentado do Banco Central, o pastor se recusou a dar o nome das pessoas que teriam cobrado a propina, mas afirmou que uma delas era um funcionário do ministério. “Usavam o nome do ministro. Diziam: ‘É para suporte político do ministro’.
”O Ministério Público Federal acusa a igreja de irregularidades numa licitação para compra de merenda e cobra a devolução do dinheiro. Foi só depois disso que o ministério decidiu reprovar as contas da entidade. “Era uma forma de eles tirarem o corpo fora”, disse o pastor. Antes dessa manifestação do MP, a pasta chegou a mandar uma carta para a igreja oferecendo a renovação do contrato.